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domingo, 15 de abril de 2012

A partida de João.


Por vezes as partidas e despedidas não são definitivas, mas a de João foi, apesar de nunca ter pensado que poderia assim acontecer consigo.
João viveu desde sempre com a sua mãe, num ambiente pobre, sobretudo após a morte do pai. A casa era humilde e a mãe - Maria Antónia de seu nome - fazia tudo para garantir que nada faltava ao pequeno. Com o desaparecimento do marido, Maria Antónia estava ainda mais ligada ao filho e o pequeno, mais apegado à jovem mãe.
Maria Antónia trabalhava a terra, vendia o que colhia, fazia pão para fora e quando podia, ainda fazia uns biscates em casa de gente rica para que nada faltasse em casa.
Mas João, apesar de ser um bom menino, queria o mundo. Era ambicioso e não criticando a mãe ou exigindo, sonhava em sair da terra, entrar num navio gigante, ir para o outro lado do Atlântico e ter uma vida melhor.
Maria Antónia conhecia o filho sonhador e também lutador que tinha, mas nunca valorizou a luta interna do pequeno e a alimentação daquele sonho já na idade pré-adulta.
Finalmente, pelos seus 20 anos, João decidiu partir e embarcar no navio - que agora já não via como sendo gigante, mas suficientemente grande para o levar em busca do seu sonho.
João partiu com a promessa de mandar buscar a mãe logo que conseguisse casa, trabalho e algum dinheiro para a viagem que, em 2ª ou 3ª classe ainda era cara.
No dia do embarque, Maria Antónia fez-se acompanhar da vizinhança ao porto de onde o navio ia partir. Nesse dia deitou todas as suas lágrimas, mas nunca mais chorou. Sofreu sim. E muito com a ausência do seu menino, mas sabia que era um direito do João lutar pelo seu sonho e que não lhe cabia a ela impedir.
Quando chegou à terra prometida, passou como todos, muitas dificuldades, mas venceu. Acabou por casar com uma Argentina, de quem teve filhas. Escrevia à mãe e mandava fotografias do casamento e do Joãozinho, que já havia nascido.
Nas cartas, pedia a Maria Antónia que fosse ter consigo, que embarcasse. Dizia que mandava dinheiro para a passagem, mas Maria Antónia já estava sem forças para recomeçar e sair do seu canto.
Com a chegada da peste, Maria Antónia adoeceu e não resistiu. Quem a acompanhou na doença, na morte e ao longo da sua vida, durante a ausência do filho, foi uma jovem, amiga de infância de João (namoradinha em criança) e que sempre ficou por ali e solteira, também ela à espera que um dia João regressasse.
Ao contrário de todas as expectativas de Maria Antónia, nunca mais viu o seu filho adorado, que partira afinal para sempre.

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