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terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Cá dentro há vida...

Cá dentro há vida.
Cá dentro há uma vida.
Cá dentro algo cresce e não aparece, mas para aparecer.
Cá dentro o que ficou de ti permanece.
Cá dentro o indesejado acontece.
Cá dentro um amor maior aparece.
E de cá de dentro virá algo que nunca se esquece.
Eu não vejo o que cá vai dentro.
Tu não queres saber do que aqui dentro se passa.
Ela nem acredita no que dentro de mim cresce.
Nós não imaginávamos que assim pudesse ser.
Vocês não querem nem saber do que cá vai dentro.
E eles....eles então ignoram qualquer coincidência com está ficção em que entramos!
Cá dentro há vida é certo.
Há uma vida.
E de cá de dentro sairá para procurar a génese (o seu eu, o tu, o ele ou ela...).
Para já, só poucos sabem do que cá vai dentro.
Por ora, só os que te protegem podem saber.
E tudo o resto está lá fora e é assim que deve continuar.

domingo, 27 de dezembro de 2015

Whislist!!


Whishlist!!
Esta é a palavra de ordem no fim do ano e no início do próximo. É sempre assim, ano após ano.
E porque não evitarmos as crendices, simpatias e lista de pedidos, que vai sempre para além dos doze!?
Para 2016 vamos mas é ser disruptivos.
Não vamos, mendigar, simpatizar, crer etc....vamos esquecer a roupa interior da  cor “não sei quantas”, a folha de louro na carteira, as moedas ao sair de casa, a peça de vestuário por estrear e outras coisas que tais.

A cada decisão que tivermos de tomar é só pensar que só temos doiscaminhos - o caminho do SIM e do NÃO.


BOA SORTE e BOM 2016!!

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Lesson Learned

A vida está sempre a ensinar e a dar-nos algumas lições.
Pena que nem sempre aprendamos à medida que vamos vivendo. 
Pena que teimemos em fazer à nossa maneira e que não tenhamos visão clínica, para receber, encaixar, digerir e aplicar a lição de vida aprendida.
Os ingleses têm uma expressão que adoro e que por cá aplicamos poucas vezes: "lessons learned".
Nas últimas semanas aprendi mais uma. Já desconfiava e "mea culpa" se precisei de me dececionar para ter a certeza do que era este o aprendizado.
Na verdade, quando pensamos que afinal há gente genuína, que se preocupa connosco, que zela por nós … que até pode fazer alguma coisa para nos ajudar e proteger, somos surpreendidos com ações que revelam que, afinal, a "aparente preocupação, é fruto de um ato egoísta e que não é mais do que, uma proteção e preocupação consigo mesmo.

E a lição foi: por mais que possamos fazer ou dar ao outro, isso não nos dá o direito de esperar que o outro aja connosco, do mesmo modo e que tenha a mesma capacidade ou sequer, vontade de dar. Somos todos egoisticamente diferentes. Temos níveis de dedicação distintos. Amamos de forma desigual. Damos em níveis e volumes diferenciados. Não há “match” possível e por isso “lesson learned”.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Confusão ou clarividência

Hoje a sensação ė de confusão. Saudade de momentos e pessoas que por várias razões não podem estar connosco, ou com quem não estamos porque a agenda não ajuda. Bem estar por sentir que há amigos verdadeiros e que, independentemente de tudo e todos estão lá. Desilusão por perceber que afinal há outras pessoas que não sabem separar as águas e que tomam opções imaturas que nos entristecem. Hoje estou confusa, mas ainda assim em paz com o amor verdadeiro e a amizade. Estes são os dois sentimentos que afinal dão sentido ao mundo. E existem. Mesmo quando não nos parece muito claro, somos surpreendidos. Hoje foi um dia de surpresas. Foi dia de receber e dar amor, amizade. Foi também dia de perceber o que não presta e não vale a pena. Hoje recebi mais uma lição de vida que nos diz que "todos os dias aprendemos" e que é nos momentos mais confusos que ganhamos a clarividência que nos permite fazer as escolhas acertadas. Hoje foi dia de escolhas.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Dos fracos não reza a história

Não. Não reza. Mas eles andam por aí.
Fracos, farsantes e afins.
Gente que mente, que engana, que se faz do que não é nem será, gente que puxa dos galões profissionais e sociais para fazer parecer. Gente que cá fora se mostra de uma forma, mas que nas quatro paredes é rasa em princípios, valores e humanidade.
É esta gente que, uma vez confrontada com o seu comportamento apenas consegue dizer: "lamento...lamento muito". São os tais fracos dos quais tenho muita pena. Agora sou a dizer: "lamento muito por eles".

sábado, 20 de dezembro de 2014

Vida chamuscada.

Sim. É verdade. Brincar com fogo faz com que nos queimemos quase sempre, ou sempre, ou muitas vezes. O pior é que, mesmo que saibamos que faz mal, a cor apela, o risco chama-nos, o calor puxa-nos para perto das labaredas.
Na vida, o fogo tem o mesmo papel. Tem perigo, tem apelo, tem cor, tem calor, tem, aparentemente, tudo de bom. Só quando lá entramos e, nem sempre no imediato, sentimos a dor que nos faz querer sair. Sair?! Mas ainda há tempo de sair?!
Por vezes parece que sim! Há tempo de fuga. Só que muitas vezes, não somos suficientemente ágeis, porque ainda estamos inebriados pelo chamamento inicial.
Os mais velhos dizem que as queimaduras fazem parte. Que ficarmos chamuscados é uma forma  de aprendizagem, que nos faz evitar as chamas, na próxima labareda que encontrarmos.
Até pode ser verdade. Mas facto é que, mesmo perante a mesma labareda, somos tentados uma, duas, três e mais vezes. Ficamos de todas elas chamuscados e só, alguns, seremos capazes de evitar a queimadura mais grave e que nos deixará marcas profundas.

sábado, 19 de julho de 2014

Insanidade

É talvez a melhor definição de Insanidade que já li ou ouvi.
E assim sendo, parece que todos temos ou já tivemos, um dia, um pouco de "insanos".
Afinal, quem não passou ainda por isso?
Quem não teimou em repetir padrões, comportamentos, atitudes, erros, emoções, na expectativa que desta vez é que vai ser?! Agora é que vou conseguir! Definitivamente é isto que eu quero! Enfim, um chorrilho de sensações de certeza, que não passam de fruto da insanidade de alguém, que não sabe seguir um rumo definido e que, pela insanidade inconsciente  em que vive, insiste em acreditar, desmedidamente, nas pessoas, nas coisas e em si próprio, levando por vezes, à loucura de quem está perto.
Ser insano não é mau. Não é mau, desde que de modo consciente. Desde que sabendo que repetir e fazer da mesma forma, teimando num resultado melhor, é pura burrice.
Se estivermos conscientes que, no fim da linha, 1+1 será sempre igual a 2 e que desse mesmo modo, fazer, sentir, dizer ou viver igual, vai levar ao mesmo resultado inglório, é ter um grau de consciência de si mesmo, com o qual já vale a pena conviver.
Não me revejo minimamente na frase de Einstein. Não me revejo porque, um dia, lá atrás no tempo, já aprendi que os padrões não nos fazem evoluir.
Hoje, sei que, se quiser mais e melhor, terei necessariamente de ser diferente. De ser eu mesma primeiro, de estar bem comigo, para depois então, poder ter um melhor resultado. Para mais tarde conseguir estar de bem com a vida, com os outros, ser feliz e seguir o meu caminho, em paz.


domingo, 29 de junho de 2014

Quando tudo parecia estar no mau caminho....

No outro dia alguém, num grupo em que estava inserida, disse algo como "por vezes não perdemos coisas ou pessoas, mas livramo-nos delas".
Na altura não me fez muito sentido e até achei que era um estado de alma demasiado radical. Nem comentei, porque a conversa não era comigo e nestas coisas, acho melhor ficar de ouvinte.
Dias depois acabei por contar a uma amiga sobre o que tinha ouvido e entendi - na verdade, quando perdemos ou nos afastamos de algo ou alguém, por alguma razão que não é clara ou que não nos parece aceitável, sentimos dor. Dor de perda, dor de adaptação à mudança, dor de solidão. Dor. Não sabemos sequer identificar. Só sentimos o aperto no peito e a ângustia.
O tempo acaba por nos mostrar que, a dor da perda foi sempre menor, do que a dor futura, se não tivessemos passado pela dita perda.
E isto faz pensar? Faz!! Será que nos temos de convencer que, quando somos sujeitos a processos dolorosos de mudança, devemos encarar que essa mudança será sempre para melhor....mesmo que nos custe o sangue naquele momento?!
Será que é aqui que se aplica o ditado "Deus tira com uma mão e dá com a outra?" Ou aquele que diz que "quando se fecha uma porta, é porque se abre uma janela?!".
Não há resposta ou respostas para isto! Mas o tempo diz-nos que sim. Que é assim! Que tudo tem uma razão de ser e que, para certas coisas boas acontecerem, outras, menos positivas, têm de ocorrer. Só assim daremos o devido valor ao que perdemos e ao que acabámos de ganhar (mesmo que o que acabámos de ganhar, seja aquilo que havia sido perdido, mas que surge como uma nova oportunidade).

sábado, 26 de abril de 2014

O Caminho Francês


Este ano, decidimos fazer parte do Caminho Francês. O mais conhecido, o mais comercial, o mais famoso… Enfim...o que fez com que a rota ou as rotas de Santiago de Compostela, se transformassem no que são hoje.
Ao contrário do ano passado, somos 3. Eu, a Zélia e o Pai Carmezim. Porque já e a segunda vez, a preparação foi mais fácil, com menos antecedência, com menos rituais. Mas não descurámos nada.
Partimos de Torres Vedras no dia 17 de Setembro.



17 Setembro 2013

Saímos pelas 07H30 da manhã, depois do pequeno-almoço numa padaria aqui perto de casa e de carro, fizemos a viagem de seguida até Vigo, onde fomos à procura do Low Cost Parking, que havia sido reservado na web.
Depois de algumas voltas e de uma paragem numa área de inspecções automóveis, ligámos para o António (que veio a ser famoso e uma preciosa ajuda para nós). O António era de facto um Galego completamente disponível, simpático e homem dos sete ofícios, apesar de trabalhar para a tal empresa low cost.
Estacionado o carro do pai Carmezim no Aeroporto de Vigo, o António levou-nos à estação, onde tínhamos comboio pelas 14h30, para Monforte de Lemos.
Tivemos tempo para uma sanduíche e uma cerveja numa tasca junto à estação.
Depois, foram 3 horas de comboio até Monforte, sempre ou quase sempre, junto ao Rio Minho. Nunca pensei ver o Rio Minho nesta ou desta perspectiva. Uma paisagem de cortar a respiração! 
Já em Monforte, comprámos novo bilhete de comboio, desta vez até Sarria, onde íamos começar a nossa 1ª etapa do Caminho.
Chegámos a Sarria pelas 18H30 locais, ainda com bastante luz natural.
O Hotel Roma, onde íamos pernoitar, ficava mesmo ao lado da estação, o que ajudou, uma vez que estávamos cansados da viagem.


Portomarin
Como sempre, estes sítios, onde dormimos, têm tudo o que precisamos enquanto peregrinos.
Depois de um banho e de umas havaianas nos pés, fomos até ao centro histórico, pejado de peregrinos, sobretudo jovens espanhóis. 
Jantámos na zona velha da vila, onde contámos com o verdadeiro menu galego: caldo, ovos fritos com batata frita, tortilha e salada. O vinho branco ajudou a dormir melhor nessa noite. O dia seguinte ia ser pesado. Eram 23 Km até Portomarin.





Dia 1 - 18 Setembro 2013
(23 Km - Sarria - Portomarin)

Saímos do Hotel Roma pelas 08h00 da manhã para um pequeno-almoço mesmo em frente ao hotel, no bar de uma portuguesa de nome Margarida (era de Mirandela e estava na Galiza há mais de 20 anos).
Para não variar, tomámos um "cola cao com tostada" e lá fomos para a trilha do caminho, já na saída da vila de Sarria.
Impressionante, mas raramente neste troço conseguíamos estar sozinhos. Os peregrinos eram tantos, que quase nunca havia a paz, que sentimos em 2012 no Caminho Português.
O pai Carmezim pôs o turbo e nunca mais o apanhámos.
A dada altura acabei por ficar sozinha, porque a Zélia havia ficado para trás para tirar fotografias.
Parei numa loja de souvenirs para colocar carimbos nos 3 passaportes de peregrino, que estavam comigo.
Choveu bastante durante os primeiros quilómetros, mas a temperatura estava amena e acabei por ter de parar no meio da floresta para tirar o ponche de protecção para a chuva.
Finalmente a Zélia apareceu.

O caminho nesta zona era de facto fantástico - estradas romanas ao longo de um mundo rural, agora sim silencioso e sem ninguém à volta.
Parámos para um café expresso DELTA em Macedo da Serra e seguimos para Ferreiros para almoçar.
Neste troço a ruralidade do espaço acompanhou-nos. Vimos vacas, cavalos e, pela primeira vez, encontrámos um peregrino a cavalo. Muitas bicicletas, tal como no ano anterior, mas aqui, ao contrário de 2012, não encontrámos portugueses.
As nacionalidades variavam entre muitos espanhóis, australianos, canadianos, franceses, italianos e como sempre.....brasileiros.
Conhecemos nesta altura o Ricardo Cardoso de Santa Catarina/Brasil, que estava no caminho há quase um mês e a fazê-lo sozinho.








Neste troço existiam muitos locais de culto (cheios de oferendas a Santiago), onde cada peregrino deixou uma lembrança pessoal.
Depois de um almoço de caldo galego, calamares e jamon, regado a vinho branco, seguimos para Portomarin (agora sem qualquer paragem).

As esplanadas no meio do nada (zonas rurais) sucediam-se, sempre com bom aspecto e muito acolhedoras.
Portomarin fica junto ao Minho, no centro do qual existem umas ruínas românicas (Portomarin antigo).

A vila tem uma praça tipicamente espanhola com igreja, correios e várias lojas debaixo das arcadas. Ali estava a Pensão Arenas, onde íamos dormir naquela noite.

Depois dos 23 Km começou o ritual: banho, alongamentos, voltaren, descanso e depois umas compras de souvenirs e uma visita à igreja (simpática e acolhedora), para meditar sobre as intenções do dia e do caminho.
Jantámos no restaurante da pensão, debaixo da arcada.

Conhecemos vários canadianos que estão a fazer o caminho desde 2 de Setembro (começaram em Saint-Jean) de bicicleta. O Ricardo, o tal brasileiro, está a fazer este percurso a pé e começou também em Saint Jean a 27 de Agosto.

Dia 2 - 19 Setembro 2013
(25 Km - Portomarin - Palas de Rei) 

Saímos de Portomarin pelas 08h30, após o pequeno-almoço. 
O caminho fez-se a partir deste ponto, com muitas subidas e quase sempre junto à estrada.
Parámos em Gonzar a meio da manhã, após os primeiros 8 Km de caminhada, para comer um bocadillo de tortilla e beber um café.
Seguimos depois até Ligonde, onde acabaríamos por almoçar. 
Já havíamos feito cerca de 18 Km.
O local onde decidimos parar tinha uma vista fantástica e campestre e servia comida caseira - casa Mariluz.
Casa Mariluz
Na esplanada, de terra batida, eram muitos os peregrinos. Os do costume.
Encontrámos alguns peregrinos a cavalo também.
Chegámos a Palas de Rei pelas 16h00.
A beleza do caminho feito hoje, nada tem a ver com o dia anterior. O facto de ter grandes troços junto à estrada, evitando a floresta, tira alguma beleza ao percurso.
Chegámos ao destino cansados e com sono, pelo que jantámos cedo, num restaurante junto à estrada. 
A ementa foi tipicamente galega - polvo, lulas fritas, pimentos padron e vinho branco.

Dia 3 - 20 Setembro 2013
(28 Km - Palas de Rei - Arzua) 

Este percurso corresponde a 2 etapas do caminho (Palas de Rei/Melide e Melide/Arzua).
Como de costume, saíamos pelas 08h30 da manhã.
O tempo estava bom e o caminho era no bosque (muito mais bonito que no dia anterior).
Fizemos duas paragens para um café - a primeira em Casanova e a segunda em Campilla.
O pai Carmezim ia sempre a liderar, muito mais à frente.
Muitos ciclistas no dia de hoje, num caminho com muitas marcas romanas, (sobretudo pontes e estradas).


Paisagem   
Em Melide, altura em que já havíamos caminhado 15 Km, parámos para lanchar. Eram ainda 11h45 da manhã.
Durante os 14 Km seguintes, com muitas subidas e debaixo de um calor enorme, foram várias as paragens - Castanedo e Ribadivo.
Em Ribadivo, um grupo de peregrinas espanholas bebia cervejas em caneca grande. Um grupo de senhoras de Granada muito bem-dispostas por sinal!
Era importante parar para descansar, comer e sobretudo ingerir líquidos.
Chegámos a Arzua pelas 17h30, ainda com um tempo muito quente.
Hoje senti muitas dores nos pés e o dia não foi nada fácil.
Quase 30 Km, com calor, é duro e quanto mais avançamos para o fim da tarde, maior é o cansaço.
As saudades de casa começam a apertar.
Jantámos na Casa Teodora (carne de vitela com batatas, costeletas e 2 garrafas de vinho branco). Era tudo óptimo aqui. E o preço muito bom também.


Dia 4 - 21 Setembro 2013
(30 Km - Arzua - Lacavolla)

Saída de Arzua pelas 08h30. Apanhámos um nascer de sol fantástico nesse dia.
1ª paragem foi em Salceda (num local horrível - sujo, barulhento). Mal deu para recuperar forças. Uns metros à frente, junto à estrada nacional encontrámos sim um restaurante/bar decente, com bom ar, onde deu para tomar um café e frequentar as casas de banho. A partir daí a etapa custou. Nunca mais chegávamos ao sítio do almoço (Pedrouzo).
O calor começou a aumentar entretanto, mas finalmente conseguimos parar uma esplanada para almoçar.
Aqui acabámos por estar mais de 1h30 parados, descalços e a descansar.
Ementa: Bocadillo caliente, imperial e licor da casa, para acabar.
Face às temperaturas que se sentiam e no meu caso, tendo em conta as dores nos pés, os 10 kms seguintes foram horríveis e dolorosos.
A dor tomou conta dos pés (unhas e tornozelos - inchado devido ao calor).
Conseguimos finalmente chegar a Lavacolla pelas 17h30.
Os últimos Kms acho que os fiz a chorar em silêncio, pelas dores que sentia.
Este percurso, por ser já muito próximo do destino, era muito frequentado. Tive momentos de me sentir numa verdadeira excursão e mal dava para meditar e estar comigo mesma.
A parte boa foi de facto o final do dia. Os 3 na esplanada do hotel a retemperar forças. Nada como o pós banho, medicação, pomadas e cremes, com um bom jantar entre os que nos acompanham :)

Dia 5 - 22 Setembro 2013
(11 Km - Lacavolla - Santiago)

Até aquecer os músculos e os tornozelos as dores continuaram.
Hoje íamos fazer poucos quilómetros e isso já nos animava mais.
Parámos para um café a cerca de 6 km de Santiago.
Da entrada de Santiago até à Catedral são cerca de 3,5 Kms.
Entrámos na cidade pela chamada "Porta de Santiago ou Porta da Cidade".
Fomos em direcção à Catedral, na tentativa de assistir à Missa. Impossível. Era Domingo e estavam milhares de pessoas em Santiago.
Seguimos para a Pensão Badalada, um pequeno hotel boutique, muito simpático e mesmo no centro da área histórica.
Seguiu-se o ritual de ir à "oficina do peregrino".
Almoço divinal no restaurante "Tulla", recomendado pela Cecília da Pensão :) Divinal.
Depois, as compras da praxe - souvenirs - e só mais tarde o banho do dia.
Mais tarde um passeio pela cidade, por sítios onde antes ainda não tínhamos passado, nomeadamente esplanadas em jardins interiores, de uma beleza incrível.
Ainda conseguimos apanhar uma parte da Missa das seis da tarde, para comungar (eu pelo menos).


Junto à Catedral
Esta cidade é de facto muito especial, tem uma energia inesgotável e acho que nunca vou entender por que razão sou apaixonada pelos Caminhos.
Tudo tem uma magia especial.
Estou rendida aos encantos de Santiago e das vibrações que gravitam nos caminhos.
Este ano, só no dia seguinte conseguimos entregar as intenções, na capela que existe dentro da Catedral.
Espero que Santiago as tenha tido em consideração, porque o esforço físico é muito, mas é feito com muita fé, sobretudo em mim própria.
Em 2014 lá estaremos de novo!



segunda-feira, 1 de julho de 2013

Sonhos que falam.

Os meus sonhos falam comigo. Falam de mim, dizem-me dos outros, dão dicas, preocupações, resoluções ou soluções. Os meus sonhos trazem-me pessoas que já cá não estão, mas que fazem falta. Dizem como se encontram os que estão neste mundo, mas que não exteriorizam o seu estado. Indicam estados de alerta para mim e para os outros ou pura e simplesmente reflectem os meus desejos para mim e para quem está à volta.
Os meus sonhos falam, apesar do silêncio da noite. E talvez porque tudo está em silêncio, só falam comigo e só eu os ouço.


sexta-feira, 22 de março de 2013

Reviver o passado!




O passado serve apenas para sabermos o que queremos e não queremos viver no futuro. Das coisas boas devemos rir e das más, retirar as boas práticas. Voltar ao passado para reviver o bom e o mau não existe! O bom já não vai ser igual e o mau só pode ser pior – by Gilda Luis.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

VIVER com CAPS...

A lição é esta...
A minha mãe teve um enorme acidente no passado Sábado, ao qual escapou por milagre. Foi um susto para todos, mas sobretudo para ela que viveu situação, num carro que vai seguramente para a sucata.Depois escreveu isto - http://diversidadesquecidas.blogspot.pt/2012/12/so-se-nasce-uma-vez.htmlNão quis deixar de partilhar convosco, porque é uma lição para qualquer um, só que na primeira pessoa.Todos devíamos pensar que temos pouco tempo e por vezes a segunda oportunidade não aparece. Mais vale aproveitar a primeira que nos é dada e deixar as "merdas"para trás das costas (desculpem a expressão).Isto vale para tudo. Para deitar fora o que não nos faz falta, o que não é prioritário, o que não nos faz felizes... e reaprender a viver. Não vale é ficar parado ou voltar (de algum modo) ao comodismo da treta, só porque é mais fácil, mais estatutário, ...enfim mais cómodo.Já disse à minha mãe que este foi um sinal, para recomeçar. Um daqueles que é de caras. Quantos de nós temos sinais tão explícitos?Quem não consegue detectar os sinais, cai na esparrela de viver a definhar. Como se estivesse à espera que a vida (a tal da primeira oportunidade), passasse. Quem não percebe que a vida nos põe à prova, para ver se nos aguentamos à bronca e paramos de cometer os mesmos erros (quem sabe com as mesmas pessoas, nos mesmos sítios e da mesma forma), vai definhar, tenha 30, 40, 50 ou 60 anos de idade. Vai apenas esperar que um dia, alguém, com pena daquela "coisa que se diz pessoa", lhe mude a algália.Eu, ainda nos sub-40, borrifei-me no estatuto, no que os outros pensam ou dizem, no viver comodamente, só porque é mais socialmente correto. Quero VIVER (com caps), como quero, onde me dá na gana, com quem gosto e me dá prazer, ao lado de quem me faz rir, chorar, ter borboletas no estômago...aos 38, não quero chegar aos 50 à espera dos sinais da vida ou que apenas me queiram mudar a algália. À minha mãe, que já passou por muitas e quase vidas diferentes, desejo toda a sorte do mundo nesta nova vida. Para mim...só quero VIVER COM CAPS!

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Sou orgulhoso(a), logo sou infeliz.

Das descobertas que tenho feito por aí, esta foi uma delas. O orgulho é, na maior parte das vezes, inimigo da felicidade.
Não o orgulho que se sente por alguém que atingiu ou fez qualquer coisa de muito importante! Falo do orgulho que impede o ser humano de seguir em frente. Aquele que faz com que não façamos qualquer coisa de importante, relativamente ao outro. Falo do orgulho que tolda a visão, a capacidade de sentir e a iniciativa. Do que nos faz repetir e repetir vezes sem conta o mesmo padrão de comportamento, em prol de manter o nosso orgulho acima de qualquer coisa ou pessoa.
Por orgulho não vamos algures, não falamos com alguém, não telefonamos ou escrevemos, não pedimos desculpa, não damos o primeiro passo. Por orgulho e com orgulho não arriscamos e o mais curioso é que ainda conseguimos ficar orgulhosos de nós mesmos.

sábado, 29 de setembro de 2012

Caminho de Santiago 2012

Bom Caminho (Setembro 2012)
Já nem sei como surgiu a ideia, mas lembro-me que começámos a falar nisto algures em 2012. Terá sido uma das resoluções das passas na passagem de ano? Honestamente não me lembro. Só sei que o que começou por ser um "desejo" do género "era tão giro fazermos esta viagem!" ou, "isto sim era algo que gostava de experimentar", tornou-se num verdadeiro projecto para este ano, ainda que com objectivos diferentes para ambas.
No meu caso, é um encontro puramente espiritual, com a religião, comigo mesma, com os outros. Promessas não as tive, até porque como dizia uma professora do liceu, "promessa é uma coisa, negócio com os santos é outra". Por isso, saí daqui com objectivos espirituais e pessoais e com a promessa de chegar ao fim. Pelo caminho ficaram sim, muitas intenções.

3ª semana de Agosto de 2012
Fazer a lista das necessidades para os 6 dias de peregrinação é uma verdadeira odisseia. E, com partida agendada para 21 de Setembro, em Agosto ainda estávamos nesta fase.... ter a lista completa, dividir a compra e o transporte do material de higiene e conforto necessário, saber afinal quem ia alinhar na aventura, comprar material em falta etc.

A 6 dias da partida
No quarto estavam amontoadas as tralhas - mochila, cantil, meias anti-bolhas, cremes disto e daquilo, calças e bermudas, t-shirts, polar, poncho para a chuva etc
Esta semana era a altura para nos dedicarmos à lista dos medicamentos. O treino aos pés e sobretudo a habituação às botas foram também uma constante.
Muito importante: o bloco de notas com as intenções definidas já fazia parte dos haveres para a partida. Como disse, não eram promessas, mas as buscas pessoais desta viagem.

20 Setembro 2012
As nossas mochilas
Pela hora do almoço lá estávamos nós na Gare do Oriente, para o Alfa até ao Porto, onde parámos para lanchar e seguir em direcção a Valença, também de comboio. Eram oito e meia da noite quando chegámos a Valença. Na saída da estação, começámos a primeira caminhada em direcção ao Hotel Lara...lá fomos perguntando pela rua, até chegarmos ao nosso destino, apesar de muita gente, pelo aspecto peregrino que tínhamos, nos indicar sempre o Albergue local. Depois uma vitela fantástica e bem servida num restaurante ali próximo (com uma Superbock que soube pela vida) e de uma boa noite de sono, só podíamos estar a começar bem o Caminho Português.

Dia 1 - 21 Setembro 2012
(17 Km)
Catedral TUI
Após o pequeno-almoço onde encontrámos o grupo de ingleses que acabaria por nos acompanhar diariamente até Santiago (sem que ainda o soubéssemos), saímos já de ponchos vestidos em direcção a TUI. Chovia. Na catedral de TUI (que é uma experiência espiritual muito intensa para qualquer um, pela beleza, pelo silêncio e pela paz que ali se vive), foi a 1ª paragem do dia para o lanche da manhã (croissant simples acabado de fazer).
Orbenlle
Continuando a caminhada, encontrámos o Mac - um inglês com mais de 60 anos de idade, que se tornou o nosso anjo da guarda ao longo dos 6 dias e que nesse dia em particular, havia estado no dito pequeno-almoço. Tinha começado o seu caminho no Porto no dia 13 de Setembro.. No caminho para Orbenlle, este foi o nosso 1º contacto. Uma simpatia, Uma dádiva.
Já em Orbenlle parámos para almoçar uma tortilla com salada de atum e passas, num restaurante com uma vista fantástica. Ali estava a Brasileira de Porto Alegre, que mais tarde viríamos também a encontrar várias vezes até ao nosso destino final.
Na floresta...antes da zona industrial.
Em seguida, muito verde, muitas trilhas na floresta e depois a famosa zona industrial - um sitio feio em recta, mas que parece demorar uma eternidade a passar.
Chegámos a Porriño pelas 16h e lá estávamos nós na pensão Maracuibo - limpa, simpática e com tudo o que precisávamos após os primeiros cerca de 17 km.
Nessa noite havia festa em Porriño, pelo que não foi fácil dormir. Os galegos levam as festas religiosas muito a sério.
Ajudou o vinho tinto ao jantar, a acompanhar umas gambas com alho e um pãozinho do melhor.
Não posso deixar de dizer que nessa noite o "Voltaren" já me fez companhia. As dores começavam nos pés e pernas estavam a começar.






Dia 2 - 22 de Setembro 2012
(19 Km)
Albergue de Mós
Não tínhamos dormido com o barulho que se fazia sentir nas ruas de Porriño. Foi festa e feira toda a noite. Acordámos pelas 7h00 (ainda estava muito escuro) e depois de nos arranjarmos e sairmos de mochila já nas costas, foi tempo de procurar, na rua principal, uma pastelaria para o pequeno-almoço. Pastelaria "Simplicio". Aqui, uma bela "tostada" e café com leite fizeram as delícias da manhã. Andámos cerca de 5 Km antes da próxima paragem para um café, no Albergue de Mós.
Meio albergue, meio café/cafetaria, com papelaria à mistura, mas tinha de tudo, sobretudo um expresso.
Café em Mós
Os peregrinos ingleses voltaram a fazer parte do momento para o break, bem como os primeiros portugueses que encontrámos a pé e um grupo de italianos (que apesar da idade, não poupavam piropos às miúdas mais novas). Tudo na base da simpatia claro!!
A partir de Mós o percurso foi muito duro (muitas subidas e descidas e chão irregular). Voltámos a parar em Santiaguino, no meio no mato, para comer um lanhe que vinha connosco e recuperar forças. Seguimos então rumo a Redondela. Quase na chegada à grande descida de Redondela, parámos ainda num café/padaria. Um Galego muito simpático, cujo filho estava a fazer o Doutoramento em Lisboa. Os bolos ali tinham Marketing pessoal, de tão bom aspecto....e o senhor recomendou-nos que fossemos dormir ao Hostal Antolin, na praia, com  vista para a Ria de Vigo e para a Ilha San Simón.
Seguindo a sugestão do nosso conselheiro, lá mudámos as reservas desse dia para o Antolin na Praia de Cesantes. Mal sabíamos nós é que os Km's seguintes íam custar tanto e que desviar de Redondela para Cesantes ía ser tão doloroso para os pés.
Nas descidas de Redondela foi preciso voltar a parar para descansar, mesmo que junto a um caixote do lixo camarário (verde...igual aos nossos).
Dentro da cidade, voltámos a encontrar um dos nosso peregrinos já conhecidos...a rua do Cruzeiro parecia não mais acabar.
Eu particularmente estava com os pés numa lástima de dor. Antes de Cesantes tivemos de voltar a fazer uma paragem num café de beira de estrada. Ali estávamos literalmente fora do caminho, dado que o desvio que estávamos a fazer não vinha assinalado nos percursos para peregrinos. Acho que nunca uma febra com batatas fritas e ovo estrelado me soube tão bem. Assim retomámos os últimos 3 Km até ao dito Hostal, que nos pareceram uma eternidade. Tudo me doía. Acho que cheguei a pensar "mas o que estou eu a fazer aqui?"
Rapidamente pensava nas intenções que levava comigo e das quais me lembrava todos os dias. Era uma forma de ganhar forças para ir em frente.
Ilha San Simón
Na chegada, de facto fomos surpreendidas pela simpatia do pessoal do hostal e pela vista. Um banho quente, voltaren uma vez mais nas pernas, creme nos pés e 1h de descanso.
Momento para escrever o dia.
Depois uns ténis, para dar sossego às botas e lá saímos para um passeio à beira-mar, seguido de uma cerveja na esplanada.... nunca uma cerveja teve em nós um efeito tão revigorante.
Mais tarde começaram a chegar ao Hostal outros peregrinos: a Brasileira de Porto Alegre, com quem nos tínhamos cruzado no dia anterior, um grupo de Brasileiros do Estado de São Paulo, com que mais à frente viríamos ainda a estar algumas vezes, um Americano de LA de origem Mexicana (lindo de morrer, devo dizer), muito simpático...os nosso amigos alemães (um grupo de 3 que víamos todos os dias)...
Calçadas para jantar
Antes do jantar pedi gelo para as pernas e pés na recepção, para ver se as dores acalmavam. Nesse dia fui jantar de meias, para surpresa  dos outros peregrinos que estavam na sala...acho que fomos as duas aliás. Na verdade os outros peregrinos queria também estar de meias, mas acho que lhes faltou a coragem.:)
Jantar fantástico: canja, mexilhões, calamares fritos e um cheesecake.


Dia 3 - 23 de Setembro 2012
(17 Km)
Para o pequeno-almoço lá voltámos a preferir as meias apenas como calçado. Era importante dar descanso às botas até ao momento de voltar ao caminho. De facto o pequeno-almoço no Hostal Antolin era óptimo e deu para reforçar com pão, fruta e cereais. Fantástica a empregada que estava de manhã - fazia pequenos-almoços, reposições na sala, check-in e check-out, enfim. Uma verdadeira multi-task. Ficámos encantadas com o serviço.
Antes da saída explicaram-nos a forma mais rápida para voltarmos ao "caminho", dado que nos tínhamos desviado cerca de 3 km, para pernoitar na praia.
De volta ao caminho...
Ponte Sampaio
Encontrado facilmente, lá partimos em direcção a Arcade. Até aqui foi tranquilo e aproveitámos para parar e tomar um café, mesmo a tempo de nos livrarmos de uma nuvem daquelas bem carregadas de água. Quando parou de chover, saímos rumo a Ponte Sampaio (uma aldeia histórica e típica da região). Algumas fotos com o nosso amigo inglês do IPAD (tirava fotos com o IPAD entenda-se) e seguimos para Gandara de Santa Marta, até onde o percurso era muito duro (elevações enormes e muita pedra...caminho aliás não recomendado para peregrinos de bicicleta). No entanto, a vegetação era tão densa, que este deve ter sido um dos percursos mais bonitos e mais intensos em termos espirituais.
Em Gandara parámos para um "bocadillo caliente", numa caravana de comidas e bebidas no meio do "quase nada". Já estávamos muito cansadas nesta altura e mais uma vez a minha mochila e o peso, provocavam horríveis dores na cintura e pernas. Um pouco mais à frente, na capela de Santa Marta voltámos a parar para descansar. Eu particularmente estava no limite. A Zélia, ainda assim, conseguia manter-se mais equilibrada fisicamente.
Caminho
Até Pontevedra eram ainda cerca de 5 Km (uma eternidade quando estamos nos nossos limites físicos). A boa notícia é que o percurso em falta era feito em rectas, sem elevações e descidas acentuadas.
Antes da chegada a Pontevedra começou a chover muito e tivemos de voltar a parar para nos abrigarmos e nutrir (amendoins e vinho branco - quem diria que nutria - numa taberna onde a ASAE não passou de certeza).
Saímos uma vez mais debaixo de chuva intensa e com os ponchos vestidos.
Chegámos pelas 15h ao Hotel Madrid em Pontevedra. E começou o ritual: banho quente, Vasenol pés e pernas, Voltaren e descanso.
Saímos mais tarde até ao centro da cidade para um almoço/lanche. Mas era domingo e em Espanha, é mesmo dia de não fazer nada. Nada aberto a não ser cafetarias.
Nesta altura os bocadillhos já enjoavam pelo que acabámos num café, giríssimo, na praça mais central da cidade velha, para um croissant com chocolate. Tudo o que a minha criança interior já estava a pedir. A acompanhar...chocolate quente claro!!!
Voltámos ao Hotel e eu lá fui para o ritual do gelo nas pernas. Se assim não fosse nem sei como aguentaria no dia seguinte.
Tentámos sair para jantar, mas precisamente por ser domingo, encontrar algum sítio com "comida a sério" e quente, era uma odisseia. Estava tudo encerrado. Acabámos a noite num Italiano, para um "minestrone" que nos soube pela vida. Estávamos exaustas!
Engraçado foi que, nesse dia, o secador de cabelo (que víamos pela 1ª vez desde que tínhamos saído de Lisboa), apenas serviu para secar as botas. Tinha começado o desapego das coisas materiais.

Dia 4 - 24 de Setembro 2012
(22 Km)
Mais uma odisseia em Pontevedra para tomar o pequeno-almoço. Na Galiza comer pão fresco de manhã cedo é mentira! Até dizíamos, em tom de piada, que "aqui os padeiros deviam ter horários muito mais flexíveis"  porque o pão chegava tarde a qualquer sítio.
No café central, com muito bom aspecto, conseguimos sumo de laranja, napolitanas frescas, cola-cao e croissants.
Igreja Santa Maria de Alba
Depois do check-out no Hotel seguimos em direcção a Alba, onde parámos na igreja para descansar, acender velas e meditar. Seguimos então em direcção a um café ainda naquela localidade para a segunda refeição  - sanduíche e um expresso forte. 
A partir daqui o caminho foi muito forte (vegetação densa e mística, uma enorme beleza natural, muita chuva, muitas dores físicas e muita emoção associada).
São os momentos em que se chora sozinho, mesmo que estejamos acompanhados.
Espiritualmente, parece que muita coisa começou a fazer sentido nesta altura!
O caminho...
A partir daqui o caminho foi muito duro para todos. Em Cancela conseguimos parar num café e recarregar baterias. Estávamos famintas. Numa tasca de beira de estrada lá estávamos nós para mais um bocadillo e cogumelos quentes, com um red bull (para ganhar forças). Conseguimos aqui descansar cerca de 40 minutos, antes de avançarmos rumo a Caldas dos Reis. Até lá era tudo em linha recta e já não voltaríamos a parar.
A cerca de 2 km de Caldas estávamos uma vez mais exaustas. Numa pequena localidade, conseguimos apenas parar no adro da igreja, junto a um parque infantil, para descansar os pés e as pernas.
Nesse dia tudo estava tão difícil que até o Hotel (Hotel Sena), ficava no final da localidade de Caldas dos Reis, pelo que tivemos de andar a pé mais 3 Km, desde que entrámos na cidade.
Quando se está no limite, mais 10 minutos ou 3 Km são uma eternidade e uma dor indescritível.
Assim que chegámos ao hotel iniciámos o ritual de higiene e descanso - banho, creme pés e pernas para relaxar, Voltaren... e uma sesta.
A Zélia descobriu massagens a 17 euros nas termas das Caldas e lá fomos nós ao fim da tarde, com a devida marcação.
As termas!
A terapeuta tinha medo de me fazer massagem nas pernas - aquilo de que mais me queixava. Dizia que podia causar algum dano maior e se assim fosse no dia seguinte não seria capaz de andar, dado que tinha os músculos altamente inflamados.
Conseguimos depois um bom sítio para jantar um caldo galego e uma costeleta de comer e chorar por mais.
Uma vez mais encontrámos o peregrino de LA, com ascendência Mexicana e que, soubemos nesta altura, que já tinha feito o caminho francês. Não tem uma perna e faz o caminho com o apoio de uma muleta. Ficámos impressionadas com a força de vontade de um tipo com aquelas características e que não teria mais que 38/39 anos.
Com a massagem desse dia, dormi muito melhor e no dia seguinte sentia-me com menos dor física.

Dia 5 - 25 de Setembro 2012
(19 Km)
Foi um dia muito giro, apesar das fortes dores nos pés e pernas.
Com o efeito da massagem do dia anterior, o amanhecer parecia mais fácil e menos doloroso sobretudo. Acho que o anti-inflamatório ajudou muito.
No caminho...com chuva.
No hotel contratámos o serviço de transporte de mochilas pela 1ª vez, para não penalizar mais as costas e só saímos por volta das 08h50. O destino era Padrón pelo que parámos em Carracedo onde estivemos cerca de uma hora para comer o famoso bocadillho de tortilla, um bom expresso e daí sim partirmos para Pino.
Começou a chover copiosamente e por isso chegámos a Pino completamente encharcadas.
Parámos então para um chá e para secar um pouco as botas.
Não ficámos muito tempo. Voltámos rapidamente ao caminho, desta vez rumo a Ponte Cesures.
Nesta localidade procurámos um restaurante chamado "Mesa de Pedra", Restaurante Medieval (http://www.facebook.com/MesaDePedra?fref=ts) ....mas durante o percurso, a Zélia estava entretida com várias chamadas telefónicas a combinar eventos sociais comuns (estar muito tempo longe tem destas coisas e temos de intercalar o espiritual com o que é mais terreno :)...para nos mantermos bem).
Fomos atendidas por um Homem de poucas palavras (pelo menos no primeiro contacto), mas cheio de sabedoria sobre Santiago, o Caminho e afins.
Quando nos sentámos já estavam na mesa 3 peregrinas Brasileiras, entre elas a Dana, com quem passámos a falar mais a partir daí.
Foi-nos servido um óptimo Caldo Galego, seguido de algo que em portugal chamamos "Carne de Alguidar" com batata cozida, queijo e doce de figo, vinho tinto e café de saco (conhecido ali como "café científico" - máquina de café de saco com a cientificidade de ter um temporizador /cronómetro à parte, como o próprio dono do local explicava, para garantir os 3 minutos necessários para um café irrepreensível).
Um local que, em Portugal, não passaria despercebido a uma ASAE, mas que é fantástico e faz as delícias dos peregrinos, pelo acolhimento, simpatia e comida caseira.
Foi aqui que aprendemos que os pimentos padron não são de Padrón, mas sim de Hebrón e que se devem comer sem rabo. "Se vos servirem pimentos com rabo é porque não foram lavados" foi-nos explicado.
No Mesa de Pedra...
No Mesa de Pedra acabámos por almoçar em grupo, entre portugueses, brasileiros e alemães. Até uns portugueses de Peniche apareceram por ali já no final da refeição.
Saímos do local completamente revigoradas pela comida, conversa, gargalhada, e pela 1h30 de descanso.
Partimos depois para Padrón, a tentar um atalho que nos tinham explicado, para encurtar caminho.
Aqui ficaríamos alojadas no Hotel Jardim  - uma casa rústica, senhorial, familiar e muito acolhedora.
Calçado dos Peregrinos no H. Jardim
Depois, já se sabe: banho, descanso e um jantar recheado de iguarias (pimentos, batata frita etc) locais e bem regado.
Jantar em Padrón
No restaurante encontrámos todos os peregrinos do dia e mais alguns com quem nos andávamos a cruzar há já algum tempo. Entre alemães, brasileiros, e a Anja (uma holandesa amorosa e simpática que estava a fazer o caminho sozinha, ou pelo menos tentava, segundo explicava).
O espírito de grupo e "do peregrino" neste 5º dia foi impressionante. Quando no encontrámos à noite para jantar, ficou claro que "todos estamos  ali com o mesmo objectivo, mas todos também  com razões diferentes". Cada um sabe das suas razões, intenções, o que procura afinal. Uma verdadeira questão de alma.


Dia 6 - 26 de Setembro 2012
(25 Km)
De Padrón até Escravitude fez-se bem (sem subidas nem descidas e sobretudo sem chuva)!
Era bom ou não era?!
Ainda em Padrón um bom pequeno-almoço junto à igreja ajudou a começar o último dia de caminhada. E claro, na Escravitude, o reforço alimentar já habitual foram a delícia da 1ª paragem.
Saímos já com alguma chuva desta localidade. Seguíamos para Obese, onde chegámos pela hora do almoço. Segunda parte do roteiro gastronómico do dia: sopa de nabiça, jamon serrano e vinho tinto. O atendimento, sobretudo da proprietária, não era muito simpático, mas o marido compensava a simpatia e a dedicação aos clientes (principalmente às meninas).
Depois de algum tempo de descanso, prosseguimos viagem para Milladoiro. Chovia muito e tivemos de nos abrigar num supermercado. A Zélia aproveitou para nos comprar uns chocolates, o que foi óptimo para reforçar o açúcar, mas sobretudo o ânimo.
No caminho...
Este era o percurso maior dos 6 dias do caminho, o da chegada a Santiago e com chuva, fica tudo mais difícil. Por ali encontrámos o grupo da Dana, que afinal acabou por não fazer apenas 12 Km como havia previsto inicialmente, arriscando-se nos 25, tal como nós.
Neste dia voltámos a estar com o grupo de ingleses, que desde Valença, vinha connosco, nos mesmos percursos. O Mac, como sempre, trazia uma mensagem especial. Desta vez tinha a ver com a dor física que eu mesma sentia - pés, sobretudo dedos e unhas. Este homem era um verdadeiro anjo na terra. Já anteriormente parece que tinha respondido às minhas dúvidas médicas (o que fazer, como minorar aquelas dores....enfim). Agora aparecia para lembrar que as dores que tínhamos não eram nada face a dores de uma vida (uma "lifetime experience", como lhes chamou). Estas dores, como ele dizia, passariam ao fim de uns dias. Outras pessoas no mundo, tinha dores de uma vida. Por isso, este sacrifício físico, era uma forma de nos lembrarmos disso, durante o caminho.

A 4 Km...


O que se sente numa altura destas é indescritível. Aqueles últimos 4 Km foram no entanto uma eternidade e só a meio da tarde chegámos à catedral.
Finalmente em Santiago...
Eram tantas as pessoas a tirar fotos umas às outras, a si próprias, sozinhas, a dois, em grupo.... nunca imaginei nada assim. Só tinha estado uma vez na vida ali e em circunstâncias bem diferentes. É impressionante o que a fé em algo move. Fé, não necessariamente no catolicismo, claro.
Depois de algum tempo a apreciar aqueles momentos, seguimos para a "Oficina " do Peregrino.
Oficina do Peregrino (dados, diploma e entrega de intenções)
Como manda a tradição, recebemos o diploma e entregámos as intenções, que são queimadas na missa da última quinta-feira do mês. Por sinal, a missa a que íamos assistir no dia seguinte (27 Setembro): a missa do Peregrino.
Agora o que ficou daquele dia: a sensação única de missão cumprida com pena de ter acabado uma caminhada para algo tão importante para cada um; um misto de vontade de rir com vontade de chorar...qualquer emoção não se percebe e muito menos se consegue explicar. Ficou a vontade de olhar à volta e voltar a olhar e ficar a olhar.... para apreciar a praça defronte da catedral. Senti que iria ter saudades destes dias...e tive. Saudades da espiritualidade, das pessoas, das sensações.
Quero voltar, a este ou a outro caminho, quero voltar desde que seja Santiago.


Dia 7 -27 de Setembro de 2012
(Em Santiago)
Acordámos pela 1ª vez sem ter o compromisso de avançar mais 1 km sequer. A sensação é ao início de alívio, porque foram seis dias de cansaço, mas ao mesmo tempo de vazio, por não termos o objectivo quilométrico do dia, os mapas para ler e pensar sobre as paragens mais adequadas, enfim, um misto de dever cumprido com o vazio que agora parecia começar.
Vista da Varanda do Quarto
O Hotel em Santiago era mesmo no centro - muito clean (do tipo IKEA), acolhedor, histórico e de gente simpática e jovem. Na mesma rua havia uma pastelaria para um bom pequeno-almoço.
Foi a 1ª manhã em que dispensámos as botas de caminhada, até porque as da Zélia tinham aberto golpes precisamente na chegada à Catedral (ou pelo menos foi quando demos por isso).
Depois de um banho matinal, roupa lavada e pequeno-almoço, seguimos para a Catedral, para a Missa do Peregrino.
Assim que chegámos, encontrámos o grupo da Dana (do Estado de São Paulo - Brasil) e os ingleses que desde sempre nos acompanharam. Quando olhávamos à volta, grande parte dos peregrinos que por ali estava eram pessoas com quem nos tínhamos cruzado ao longo dos 6 dias de Caminho.
A Missa começa com um enorme agradecimento aos peregrinos e um cenário fantástico levado a cabo pelo turíbulo (defumador de metal, preso a 3 correntes). Os movimentos de defumação da peça são enormes e visíveis em quase toda a catedral. É impressionante. A comunhão foi demorada, com tanta gente a querer celebrar o momento. Aquela era também a última missa numa quinta-feira do mês, altura em que se queimavam as intenções. As nossas lá ficaram. Só nós e Santiago as conhecemos. E mesmo que demorem, ele vai tê-las em conta, tenho a certeza.
Na Missa após a comunhão
Aproveitámos a ida à Catedral para dar o abraço a Santiago, numa zona própria da igreja.
Saímos depois para almoçar, para ir às compras (porque o frio apertava e a roupa que trazíamos era do tipo Verão) e para comprar os bilhetes de autocarro, para o Porto, para onde partiríamos no dia seguinte. Voltámos mais tarde à Catedral para colocar algumas velas.
Tarde de Sol
Tarde de Sol

Nesse dia ainda apanhámos uma tarde de sol fantástica, que aproveitámos até ao último minuto. Conseguimos jantar num sítio muito giro e de comida típica, que recomendamos. Chama-se "O Dezasseis" e aqui fica a dica : http://www.dezaseis.com/ 
Na Galiza come-se definitivamente muito bem.

Dia 8 -28 de Setembro de 2012
(De volta a Lisboa)
Hoje acordámos e só no pequeno-almoço nos apercebemos que estávamos atrasadas para o autocarro para o Porto.  Pois é! Obra do acaso ou não, o despertador não só não tocou, como a hora estava errada.
Correria até ao hotel, para apanharmos as mochilas, depois até ao táxi, para chegarmos ao autocarro. Entrámos pela plataforma dos autocarros, em plena garagem, com o embarque já a terminar. Mesmo a tempo!
Saíamos de Santiago e começámos a percorrer no BUS alguns dos locais onde havíamos passado a pé. A sensação é estranha. Numa hora andámos o que tínhamos levado cerca de 3 dias a fazer em caminhada.
Dormimos a viagem quase toda até ao Aeroporto do Porto. Uma vez aí, acabámos por conseguir apanhar um voo mais cedo que o previsto para Lisboa.
Quando aterrámos na Portela a sensação é a de que tínhamos sido tele-transportadas de um sítio longínquo e inacessível mas cheio de paz. Instalou-se a sensação de ter vindo de Marte em pouco mais de 2 horas.

No final da viagem o que ficou? Costumo dizer que ficaram 3 marcas desta experiência:
  • conhecemos melhor os nossos limites físicos e até que ponto esses limites impactam nos limites emocionais (até onde e como aguentamos sem dor física e a partir de quando essa dor nos causa sofrimento e lágrimas);
  • damos mais valor ao outro e sabemos que o espírito humanitário afinal existe e que, existem pessoas, tal como nós, que de forma desinteresseira e desinteressada, se preocupam e ajudam o outro;
  • valorizamos coisas básicas que temos no dia-a-dia e que numa situação de esforço físico e emocional, fazem toda a diferença (como é o caso de uma refeição quente).
Nós  adorámos a experiência.
Acredito que 2013 vai trazer um novo caminho, este ou outro, com novas histórias, pessoas, mas quem sabe com as  mesmas intenções.