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domingo, 29 de agosto de 2010

Com ou sem Mundo?


Cada vez somos mais cidadãos do Mundo e ao mesmo tempo, gente sem raízes... gente que não pertence nem aqui, nem ali, nem ao sítio onde nasceu, nem ao local onde vive, nem à família de origem, nem ao seu núcleo familiar quotidiano.
O curioso é que ser cidadão do mundo, na verdadeira acepção da palavra, não é ser desenraizado. Sê-lo é antes pelo contrário ser-se alguém que tem mobilidade natural e adaptada, capacidade de se enquadrar em vários ambientes sociais e profissionais, no seu país de origem, noutro que visita por acaso e onde acaba por permanecer, ou ainda num outro local do mundo, onde escolhe viver e crescer como pessoa.
Cada um de nós encerra em si parte destas duas personagens e consegue ser tanto mais feliz, quanto maior o equilíbrio entre ambos os estados. Os cidadãos do mundo são necessariamente mais realizados e optimistas. Os seres sem mundo trazem consigo mais frustrações, dúvidas sobre quem são e para onde devem seguir, constante necessidade de se sentirem parte de um espaço e grupo, vontade de afirmação, dificuldade de bem-estar até na sua própria casa...
Para os primeiros, as mudanças são um desafio constante e são vistas como um momento aliciante que os faz andar para a frente. Para o segundo grupo, qualquer alteração de casa, trabalho, país, terra, família, amigos e núcleo de conhecidos contribui para a confusão, até porque de um modo geral já passaram por várias e por isso perderam as raízes e o seu mundo.
Estejamos em que estádio for, cabe a cada um de nós, estabelecer os seus limites e regras para não permitir o caos. Mesmo que por vezes a regra possa significar a ruptura completa com a "paz podre” em que se vive e que nos faz parecer tão felizes aos olhos dos outros. É mentira! Não somos! E mais vale romper, ficar sem mundo uma vez mais, e vir a ser um verdadeiro cidadão do mundo, do que permanecer como um “morto/vivo” sem mundo.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Amigos


São os que conhecemos desde que nos entendemos como seres humanos e que por muito tempo que estejamos longe, continuam a ter a mesma ascendência sobre nós - olham-nos e conseguem ler os nossos sonhos e pensamentos, mantêm o mesmo à vontade de sempre, apesar da distância e da falta de contacto, compreendem o que sentimos, mesmo que não acompanhem a nossa vida no dia-a-dia e sobretudo, são poucos e raros. Cada um de nós deve poder contar pelos dedos de uma mão, os amigos que se encaixam neste perfil de amizade...
O importante é sabermos que eles existem, quem são, onde estão e, acima de tudo, que podemos contar com a sua amizade incondicional.
Ao longo da vida aparecem depois os "outros amigos". Aqueles que não vêm da infância, mas que nos vão acompanhando nas outras fases também importantes das nossas vidas (escola, faculdade, trabalho, casamento, filhos...). São muitas vezes relações meramente sociais, que acabam por se revelar tão importantes como os "amigos de sempre".
Depois surgem os "amigos surpresa ou revelação". Os que nos surpreendem com a sua atenção, carinho e amizade. Que surgem onde e quando menos esperamos. Pessoas com quem não nos imaginávamos sequer a estabelecer qualquer relação de amizade, mas que aparecem para ficar...
Cada um de nós terá com toda a certeza outros "grupos" de amigos. Mas, acredito que os "de sempre", os "outros amigos" e os "revelação" são, todos eles, muito, muito importantes e vão estar connosco para sempre. E isso é o melhor da amizade.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Maratona da Vida


Hoje vivemos à pressa.
Comemos à presa, dormimos a correr, trabalhamos em stress, vamos ao ginásio num instante (só para a consciência não pesar), deixamos e apanhamos os filhos na escola em minutos (é o tempo de despedir, dizer que se têm de portar bem e dar mais alguns avisos da praxe) e pressionamos nos trabalhos de casa ao fim do dia. Usamos micro-ondas para descongelar e aquecer rapidamente, bimbys para os belos cozinhados em minutos, máquina de café com cápsula para a famosa bica em segundos, torradeira com alerta de tarefa terminada, telemóvel com alarme para reuniões, aniversários, consultas médicas importantes e outros lembretes, mensagens sms pré-definidas para enviar em caso de urgência ("em reunião", ligo mais tarde"...sempre a dizer que naquela altura não podemos falar e que depois tratamos daquele assunto). Somos ainda parte do social media para falar com todos os amigos e não tão amigos ao mesmo tempo, porque assim não gastamos ainda mais tempo e vamo-nos mantendo informados e informando em simultâneo (com frases curtas, mas que resumem os nossos dias, por si só já muito curtos, apesar de os fazermos esticar até ao limite das 24 horas). Enfim. Parece que nos tornámos numa geração sem tempo para viver. Passámos sim a sofrer de falta de ar, paciência, calma etc... tudo por causa do tempo, ou melhor, pela falta dele.
Por vezes pensamos que, de um momento para o outro, esta pressa pode deixar de fazer sentido, porque podemos adoecer, morrer, sei lá. Mas claro só quando acontece alguma desgraça a alguém e pensamos: "coitado (a), tão jovem, com tanta pressa, tanta coisa para fazer e para quê?"
Passadas algumas horas esquecemos e voltamos à maratona da vida, sem sabermos na maior parte das vezes, onde e quando é a meta.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Aos meus avós


Existem pessoas que passam nas nossas vidas e que, mesmo depois de partirem, continuam a estar junto de nós - na nossa memória recente. Homens e Mulheres que, por uma ou outra razão, por vários motivos, por todos os motivos, deixam as suas marcas nos que ainda ficam, independentemente da idade, cor, raça, condição social...
Não temos, na maioria das vezes, a noção do que vamos conseguir guardar. Alguns de nós memorizam as histórias bem humoradas tão próprias daquela pessoa, outros não se esquecem do timbre de voz, das mãos, do sorriso, do cabelo, do olhar...
Mas quase todos escolhemos ficar com numa imagem positiva desse ser humano tão importante, ao invés de nos lembrarmos dos últimos momentos, regra geral mais dolorosos.
Eu faço parte deste grupo. Dos que preferem apagar os piores momentos e guardar daquela pessoa, tudo o que teve de bom antes de morrer. Recordo o que me deram, o que receberam de mim, o que me ensinaram, o quanto foram importantes para o meu crescimento como SER HUMANO. Prefiro lembrar o sorriso, a alegria de viver e de estar com os outros, a forma mais rígida de uns ou mais desprendida de estar na vida de outros, mas sobretudo, não me esqueço do amor que qualquer um deles tinha por mim.