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quarta-feira, 30 de junho de 2010

A menina que, quando menina, queria escrever


Há muitos anos, não há muitos muitos, mas há já os suficientes para poder falar em "muitos", conheci uma menina que queria ser escritora.
Pode dizer-se que escrevia bem, com alguma piada até...talvez essa fosse uma forma de ter graça. No dia-a-dia não era uma pessoa divertida. Por vezes colocamos na ponta da caneta - agora no teclado do computador - o que gostaríamos de ser e não conseguimos, porque a misantropia nos acanha a alma.
Era o caso da menina.
Mas adiante....escrevia tanto, que os dedos chegavam a doer, as mãos estavam sempre borradas de tinta "bic cristal", os cadernos volumosos das páginas e páginas de textos... tudo porque acreditava que escrevia com piada e um dia podia ter o seu próprio livro. Mentira! Acreditar não chega. Para conseguirmos vir a ser o que sonhamos, temos de acreditar, batalhar, ter uma estrelinha da sorte, um anjo da guarda, um empurrão de alguém especial, algum dinheiro, estar no local certo à hora indicada, encontrar quem acredite em nós e nos dê força todos os dias, ter fé e fazer uso dela, enfim....um cem número de "requisitos".
A menina que queria escrever não fez disso o seu ganha pão, mas escreve sempre que pode, aqui e ali, ali e acolá, algures numa toalha de mesa de um restaurante e muito importante: assina o que escreve, apesar de não se tratar de um livro.
Não sendo escritora de profissão, a escrita está sempre presente nos seus dias e apesar da falta de treino, as palavras ainda fluem, já não com a piada de outros tempos, mas com o vigor de alguém que, apesar da falta dos tais cem requisitos, ainda acredita que um dia, o sonho vai ser real...e que não vai acordar.

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